Nos últimos dias, dois pré-candidatos do PSDB a prefeituras de capitais optaram por desistir da disputa:
- Em Curitiba, o ex-governador Beto Richa deixou a corrida pela prefeitura da capital paranaense.
- Em Belo Horizonte, foi o deputado estadual João Leite quem desistiu da disputa.
Falta de horário eleitoral e consenso em federação
Em Curitiba, Richa anunciou na última segunda-feira (5), antes da convenção da federação PSDB-Cidadania, que não concorreria mais.
Richa citou que existiam fatores que estavam dificultando a candidatura, como ter apenas 30 segundos no horário eleitoral gratuito em rádio e televisão por não haver nenhum partido coligado, além da federação. “É um tempo insuficiente: dentro de 10 minutos, apenas trinta segundos”, disse na ocasião.
Outra questão que pesou para a decisão, para Richa, foi o Cidadania ter declarado apoio a Eduardo Pimentel, atual vice-prefeito e candidato pelo PSD.
Por serem federados, PSDB e Cidadania devem tomar decisões em conjunto. Após a convenção, os partidos decidiram ficar neutros na disputa.
De acordo com o Índice CNN, agregador de pesquisas eleitorais, Richa aparecia com 10% das intenções de voto, conforme dados até 8 de julho, ficando na quarta colocação. Veja o panorama:
- Eduardo Pimentel (PSD): 22%
- Luciano Ducci (PSB): 15%
- Ney Leprevost (União): 13%
- Beto Richa (PSDB): 10%
- Roberto Requião (Mobiliza): 10%
Partido opta por apoio a prefeito de BH
O então pré-candidato em Belo Horizonte do PSDB, o deputado estadual João Leite, desistiu e decidiu, junto da federação, apoiar a candidatura à reeleição do prefeito Fuad Noman (PSD).
A decisão foi anunciada na terça-feira (6), com a presença de Noman, Leite e do deputado federal Paulo Abi-Ackel (PSDB), presidente estadual do partido.
Leite tinha 9% das intenções de voto, conforme o Índice CNN, e estava empatado com Noman na quarta posição. Veja o cenário:
- Mauro Tramonte (Republicanos): 24%
- Bruno Engler (PL): 13%
- Duda Salabert (PDT): 11%
- Fuad Noman (PSD): 9%
- João Leite (PSDB): 9%
- Carlos Viana (Podemos): 8%
- Rogério Correia (PT): 6%
- Gabriel Azevedo (MDB): 3%
- Luísa Barreto (Novo): 1%
Para o professor de Ciência Política da Fundação Getúlio Vargas Eduardo Grin, é difícil o PSDB entrar em disputas nas quais já há candidatos melhor posicionados e sabendo que não tem chances de vitória.
“Há candidatos mais bem posicionados, que é o caso de Curitiba e Belo Horizonte, sabendo que não tem chance de ganhar e, portanto, vai desperdiçar recurso de uma campanha majoritária, recursos escassos, que poderiam ser utilizados para eleger vereadores”, explica Grin.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PSDB receberá R$ 147 milhões do Fundo Especial de Campanha para as eleições de 2024.
Outras capitais
As desistências em Curitiba e Belo Horizonte não foram casos isolados.
Há um mês, pré-candidatos em Cuiabá, o deputado estadual Carlos Avallone, e em Teresina, o ex-senador João Vicente Claudino, anunciaram que não participariam mais da disputa.
O PSDB ainda mantém sete candidaturas em capitais, veja:
Perda de identidade
O momento do PSDB, para o professor Eduardo Grin, é muito crítico, porque a legenda foi perdendo sua identidade.
“O PSDB foi por muito tempo o contraponto do PT e, hoje, o contraponto do PT é o bolsonarismo. E o PSDB então se perdeu nesse debate ideológico. Ele não consegue mais criar uma mensagem capaz de mobilizar pessoas, eleitores, porque hoje a política brasileira está muito polarizada e essa ideia de terceira via não cola”, cita Grin.
E, a partir disso, visto a diminuição de representação do partido, principalmente no Congresso, acontece a perda de recursos para campanha.
Os partidos ganham recursos adicionais do TSE dependendo do tamanho de sua bancada. Em 10 anos, o partido passou de 54 deputados, em 2014, para 10, em 2024. No Senado, foi de 10 parlamentares, para um atualmente.
“Então, essa ideia de que é possível criar uma terceira via, que não vai se criar, o PSDB vai perdendo cada vez mais espaço na política e isso tudo deve ter sido levado em conta pelos dois candidatos que desistiram”, finaliza o cientista político.
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