O Observatório da Discriminação Racial no Futebol divulgou nesta quinta-feira (26) o 10º Relatório da Discriminação Racial no Futebol, que é baseado em dados de 2023. O trabalho feito em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o Grupo de Estudos sobre Esporte e Discriminação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) mostrou um aumento nos casos de racismo no futebol brasileiro.
Segundo o levantamento, 136 casos de racismo foram registrados em 2023, um aumento de 38,77% em relação a 2022, quando foram anotados 98 incidentes. Desde 2016, os casos vem aumentando ano a ano e, em relação a 2014, primeiro ano do monitoramento realizado pelo Observatório, os incidentes aumentaram em 444% (de 25 para 136).
Mas o aumento também se deve a uma conscientização maior nas arquibancadas. Hoje, os torcedores denunciam mais casos de racismo do que há 10 anos atrás, como explica Marcelo Carvalho, fundador e diretor executivo do Observatório.
“Esse dado não é só ruim. Também apresenta uma evolução importante, que é uma maior conscientização dos torcedores e dos jogadores. Se a gente tem mais denúncias, é porque a sociedade brasileira está mais atenta a entender o que é racismo e as suas diversas formas de expressão”, afirmou.
Mais recortes
O relatório não se limita a casos de racismo, registando também outros tipos de discriminação, como por exemplo LGBTfobia, xenofobia e machismo. Nesse recorte mais amplo, também houve aumento.
Foram 250 incidentes discriminatórios ao todo, sendo 222 ocorridos no Brasil e 28 com atletas brasileiros no exterior. O racismo predominou na estatística, representando 75% das denúncias (184 casos). Logo depois vem LGBTfobia, com 16% (41), xenofobia, com 6% (14) e machismo, com 4% (11).
Mais casos no futebol
Entre os 250 episódios discriminatórios, 222 aconteceram no futebol e 28 em outros esportes. Dos casos do futebol, 195 se deram no Brasil, dos quais 136 tiveram cunho racista.
Dos 222 casos registrados no Brasil, 74% (165) ocorreram em estádios, 14% (31) na Internet e 12% (26) em outros espaços. Ainda dentro desse recorte, 136 são de ordem racista, das quais 104 foram identificadas em estádios, 19 na internet e 13 em outros espaços.
Entre os 104 incidentes raciais em estádios no futebol brasileiro, 91 foram verificados durante partidas de futebol em 21 estados diferentes. O Rio Grande do Sul foi o líder de casos, com 20, seguido do São Paulo, que registrou 18, e de Minas Gerais, com dez. As demais 13 ocorrências ocorreram no exterior e envolveram atletas, torcedores e/ou membros de equipes brasileiras: cinco na Argentina, quatro no Paraguai e uma em Chile, Uruguai, Venezuela e Peru.
Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, considerou grave o aumento de casos.
“O aumento dos casos reportados em relação à temporada anterior reforça a gravidade do problema e os desafios persistentes, que urgem, mais do que nunca, ações inovadoras, efetivas e continuadas, de forma a romper com a passividade e a cumplicidade histórica com o racismo”, afirmou o presidente da entidade.