• Home
  • PRINCIPAL
  • Como o bispo Bruno Leonardo se tornou um youtuber de sucesso no Brasil

Como o bispo Bruno Leonardo se tornou um youtuber de sucesso no Brasil

Diariamente, milhares de brasileiros se dedicam a acompanhar, em algum momento da rotina, as orações do bispo evangélico Bruno Leonardo nas redes sociais. Aos 43 anos, ele é conhecido como uma das figuras religiosas de maior popularidade na atualidade.

Líder da Igreja Batista Avivamento Mundial, em Salvador, na Bahia, o religioso é responsável pelo terceiro canal do YouTube com maior número de inscritos no país. A conta, criada em 10 de abril de 2016, já reúne mais de 50 milhões de seguidores.

Por lá, Bruno – que é pastor desde os 15 anos e é casado com a também pastora Érica Rios – costuma compartilhar mensagens e palavras de fé, passagens bíblicas e promessas de milagres, se aprofundando em questões existenciais, emocionais e cotidianas de seu público. 

O estilo direto fez com que se criasse em torno dos vídeos dele uma comunidade fortemente engajada, responsável por colocar o pastor em evidência no ranking nacional da plataforma com números elevados.  

Em mensagem enviada à CNN, o bispo disse que atribui o grande alcance de seus vídeos nas redes sociais à “necessidade das pessoas ouvirem a palavra de Deus em momentos difíceis de suas vidas”.

O que os números de Bruno Leonardo representam

Dados da plataforma Social Blade, que se dedica a comparar métricas digitais, apontam que a produtora de funk Kondzilla lidera o ranking de canais brasileiros no YouTube, com 67,6 milhões de inscritos.

Na sequência, a lista tem o influenciador Lucas Netto e, então, Bruno Leonardo na terceira posição. Em quarto lugar, está a dupla Maria Clara & JP, seguida pelos canais de Felipe Neto, “Você Sabia?” e Whindersson Nunes.

Ainda de acordo com a plataforma, entre 14 e 28 de março, o religioso ganhou 1,7 milhão de novos inscritos. Os vídeos também receberam cerca de 204 milhões de visualizações. Com a monetização desses números, a Social Blade calcula que os conteúdos renderam a Bruno Leonardo ganhos de pelo menos R$ 293 mil.

Um dos vídeos mais recentes, lançado na manhã desta segunda-feira (31), já contava com mais 2 milhões de visualizações, cerca de 400 mil comentários e 780 mil curtidas, que ajudam a ilustrar o alcance das publicações. 

Conteúdos diários para além do YouTube

O conteúdo do líder evangélico não fica restrito somente ao YouTube. No TikTok, por exemplo, versões mais curtas dos vídeos de orações também chegam aos seguidores. Até o momento, o perfil oficial de Bruno Leonardo reúne pouco mais de 1 milhão de usuários. Já no Instagram, o número é quase dez vezes maior, com 9,8 milhões seguidores.

A forte presença do religioso também tem chamado a atenção fora do ambiente digital. Em dezembro de 2024, Bruno Leonardo reuniu 68 mil pessoas durante a tradicional “Visita do Profeta”, no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte.

No evento gratuito, segundo os organizadores, cristãos de diferentes regiões do Brasil ocuparam arquibancadas e o gramado do estádio em busca de novas conexões espirituais. A cerimônia contou com uma manhã de bênçãos, curas e revelações, com a intenção de provocar “transformações significativas na vida de cada um”. 

Bispo Bruno Leonardo é natural de Salvador, na Bahia, é um dos principais líderes religiosos da atualidade
Bispo Bruno Leonardo é natural de Salvador, na Bahia, é um dos principais líderes religiosos da atualidade • Divulgação

Fatores que contribuem para a popularidade de Bruno Leonardo

À CNN, a teóloga Ana Beatriz Dias Pinto, professora do Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), observou que tradicionalmente sempre existiram líderes que, de alguma forma, se adaptaram a realidade de seu tempo para oferecer respostas a anseios e conforto às pessoas.

“No Antigo Testamento, por exemplo, temos Moisés, como um líder que vai chefiar toda a passagem do povo de Israel a Terra Prometida. Já na história do cristianismo nascente, temos o próprio Jesus Cristo, um comunicador aplicado ao seu tempo, falando de elementos que se conectam com a vida das pessoas”, diz.

“A partir do século 17, 18, 19, com o grande boom da industrialização no mundo, e tudo aquilo que irá acontecer dentro das interfaces religiosas – e das outras possibilidades de crença, como o espiritismo e o desenvolvimento da maçonaria, por exemplo – a religião passa a ocupar um cenário muito importante na vida da população mundial”, acrescenta.

Por isso, diz a teóloga, um dos principais fatores que contribuem para a popularidade de Bruno Leonardo é a crescente busca da população, especialmente no período pós- pandemia, por espiritualidade e algum sentido para compreender a realidade.

“Nunca o ser humano buscou tanto por respostas, por interioridade e por informação. Nesse papel, (Bruno Leonardo) apresenta tudo isso de maneira bastante assertiva para a população geral. É um discurso que se apresenta de maneira gradual e, por isso, ele pode até ser considerado um coach religioso”, aponta a pesquisadora.

Ana Beatriz também destaca que, apesar do impacto positivo junto às pessoas que absorvem e incorporam mensagens do tipo na era digital, é preciso que todos os líderes religiosos tenham cuidado com a responsabilidade que carregam ao se comunicar com grandes massas. “Nem sempre aqueles que se utilizam dessas frases bíblicas, e desses elementos, estão, de fato, fazendo o seu bom uso no pressuposto da evangelização”, afirma a teóloga.

Midiatização da religiosidade

Para o pesquisador Luciano Gomes dos Santos, professor de religião do Centro Universitário Arnaldo Janssen (UniArnaldo), em Belo Horizonte (MG), o grande alcance de Bruno Leonardo também pode ser analisado por diferentes perspectivas no campo das ciências sociais, incluindo a sociologia da religião, a comunicação digital e os estudos sobre comportamento das massas no ambiente virtual.

“A sua ascensão aos status de influenciador religioso está relacionada a um conjunto de fatores que vão desde a transformação do consumo religioso na era digital até estratégias bem-sucedidas de engajamento com o público”, descreve o pesquisador à CNN.

Gomes dos Santos aponta que a crescente digitalização da experiência religiosa tem proporcionado novos meios para líderes evangélicos alcançarem seus fiéis além das limitações físicas dos templos.

“Plataformas como YouTube, TikTok, Facebook e Instagram permitiram que a pregação explorasse os espaços menos convencionais e atingisse audiências em larga escala. O bispo soube utilizar essas ferramentas de maneira eficaz, publicando conteúdos que combinam orações, reflexões e mensagens motivacionais de forma acessível e contínua, criando um senso de proximidade com o público”, acrescenta o acadêmico.

Outro fator importante a ser considerado, segundo Gomes dos Santos, é a linguagem utilizada durante a evangelização. “Ele adota uma comunicação simples, direta, emotiva, com tom acolhedor, gerando a sensação de intimidade. Essas características favorecem a identificação de um público amplo, muitas vezes em busca de conforto espiritual diante das adversidades da vida”, afirma o pesquisador.

O discurso de Bruno Leonardo costuma enfatizar, entre outros aspectos, a superação de dificuldades e a fé em milagres, em um tom que Gomes dos Santos associa à teologia neopentecostal, amplamente difundida no Brasil e em outros países de forte tradição cristã.

Segundo o pesquisador, o contexto de desafios sociais e econômicos no Brasil também contribui para a popularidade. De acordo com o professor, momentos de incerteza e vulnerabilidade aumentam a busca por mensagens de esperança e pertencimento, tornando figuras carismáticas ainda mais relevantes.

“Ele reforça essa ideia de que a fé pode ser um caminho para vencer desafios, o que ressoa profundamente com camadas populares que enfrentam dificuldades materiais e emocionais”, pontua.

Comunidade digital focada na individualização da fé

Por fim, Gomes dos Santos avalia que a influência do líder evangélico também ilustra outro fenômeno em alta no país: a individualização da fé, que desafia a estrutura hierárquica das igrejas convencionais, permitindo que os fiéis tenham acesso à palavra de um pregador sem necessariamente estar vinculado a uma denominação específica.

“Isso reflete uma tendência mais ampla dessa individualização, em que os seguidores escolhem seus ídolos e os seus conteúdos de maneira mais personalizada”, descreve o pesquisador. “Eles podem interagir, comentar, compartilhar e criam uma comunidade virtual engajada, que reforça a sensação de pertencimento e participação ativa”, conclui.

Hierarquia da Igreja Católica: entenda os principais cargos e funções

Clique aqui para acessar a Fonte da Notícia

VEJA MAIS

Apesar de apelos, PL tenta obstruir reciprocidade econômica na Câmara

Apesar de apelos, o PL vai tentar obstruir a votação do projeto da reciprocidade econômica…

Flamengo explica aumento de dívida em novo demonstrativo financeiro

No demonstrativo financeiro de 2024, o Flamengo registrou um aumento superior a 500% no endividamento.…

Novas regras fiscais para MEIs entram em vigor nesta terça (1°); entenda

Passa a valer nesta terça-feira (1°) novas regras fiscais para os microempreendedores individuais (MEIs). Entre…