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Entidades lamentam alta dos juros e temem desaceleração da atividade

A indústria, a construção e o comércio veem com preocupação a alta dos juros decidida pelo Banco Central (BC) nesta quarta-feira (18).

O Comitê de Política Monetária (Copom) votou por elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, a 10,75% ao ano. Em comunicado, o BC buscou justificar a decisão por conta de pressões inflacionárias que estariam desestabilizando as expectativas do mercado.

Felipe Tavares, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), pontua que as pressões inflacionários emanam dos gastos públicos, que não são resolvidos com alta dos juros.

“A gente entende a decisão do Banco Central e sua preocupação com a inflação, mas a CNC acha que esse reajuste na taxa de juros não deveria ser dado porque o grande problema brasileiro está no desequilíbrio fiscal”, aponta.

Por conta da decisão de amenizar os temores dos agentes financeiros, Tavares argumenta que quem vai pagar pela má gestão das contas públicas é o empresário e o consumidor brasileiro com o encarecimento do crédito.

“O comércio brasileiro depende do crédito para rodar. Essa alta terá um gosto muito amargo no setor produtivo e nas famílias brasileiras”, pontua.

A entidade do comércio aponta que a alta da Selic pode prejudicar principalmente o desempenho em datas importantes para o setor, como a Black Friday e o Natal.

“A falta de um posicionamento claro sobre a flexibilização da meta fiscal apenas agrava as incertezas. A Confederação reitera que o descontrole fiscal e o aumento dos gastos públicos são insustentáveis, lamentando que a solução esteja recaindo sobre os juros, prejudicando o crescimento econômico”, aponta a CNC em nota.

O setor de construção, que também depende do crédito para seu movimento, lamentou a decisão do Copom.

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) avalia que a alta dos juros vai criar obstáculos para os investimentos em infraestrutura, além de reduzir o volume de depósitos na caderneta de poupança.

Em 2023, o setor registrou recuo de 0,5% em suas atividades, movimento pelo qual foram culpados os juros, que se mantiveram elevados, em 13,75%, entre agosto de 2022 e agosto do ano passado.

Porém, neste ano, dados apontam para um reaquecimento da atividade. No segundo trimestre, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirmam que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor cresceu 3,5%.

Mas com o crédito mais caro, a CBIC aponta que os investimentos devem cair, e por consequência, o crescimento do país.

“O desafio é desenvolver o Brasil sem as condições necessárias para o investimento acontecer”, comenta Renato Correia, presidente da entidade.

Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) diz receber a alta dos juros com “total indignação”. Em nota, a instituição citou o movimento brasileiro na contramão das principais economias do mundo, que estão em processo de flexibilização da política monetária.

Também nesta quarta, o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), cortou a taxa em 0,5 ponto, o primeiro movimento para baixo desde 2020, e sinalizou novos cortes para os próximos meses.

“É emblemático que no mesmo dia em que os Estados Unidos decidem baixar a taxa básica após meses, o Brasil resolva o contrário, elevar a Selic”, avalia Ricardo Alban, presidente da CNI.

“Torna a nossa diferença de juros reais ainda mais grave e cria condições desfavoráveis ao investimento no país. Até que ponto a especulação do mercado futuro de juros influencia as narrativas da expectativa de inflação futura?”, questiona.

A entidade avalia que o nível anterior da Selic, em 10,5%, era mais do que suficiente para conter a inflação. A CNI afirma que a alta dos juros deve prejudicar tanto a criação de empregos quanto a renda da população.

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