Você fica bobo quando olha para olhos grandes e líquidos de “cachorrinho” olhando para você, do seu pet implorando por praticamente qualquer coisa?
Claro que sim, mas não culpe seu filhote. Um novo estudo descobriu que os humanos são os culpados por trás desses olhos irresistivelmente doces – na verdade, nós cruzamos esses olhos tristes com os cachorros domesticados de hoje a cerca de 33 mil anos atrás.
“Os cães são únicos de outros mamíferos em seu vínculo recíproco com humanos, que pode ser demonstrado através do olhar mútuo, algo que não observamos entre humanos e outros mamíferos domesticados, como cavalos ou gatos”, disse a autora sênior Anne Burrows, professora do departamento de fisioterapia na Escola de Ciências da Saúde John G. Rangos,da Universidade Duquesne, em Pittsburgh, em um comunicado.
“Ao longo do processo de domesticação, os humanos podem ter criado cães seletivamente com base em expressões faciais semelhantes às suas”, disse Burrows.
Acontece que os cães, quando comparados com seu primo genético, o lobo, têm mais músculos faciais de “contração rápida”, disse Burrows. Isso permite que os cães imitem as nossas expressões – ou pelo menos olhem para nós de uma maneira que derrete nossos corações.
“Com o tempo, os músculos dos cães podem ter evoluído para se tornarem ‘mais rápidos’, beneficiando ainda mais a comunicação entre cães e humanos”, disse Burrows.
Fibras de contração rápida versus lenta
As fibras de contração rápida estão nos músculos de todo o corpo, permitindo-nos fazer movimentos súbitos e mais poderosos, como sair de um bloco de partida em uma corrida. No entanto, os músculos de contração rápida se cansam rapidamente, então não podemos manter essa intensidade por muito tempo.
Assim como o nome indica, as fibras musculares de contração lenta funcionam de maneira mais uniforme e tranquila, como permitir que um corredor funcione em longas maratonas, onde a energia precisa durar.
Pequenos músculos “miméticos” ajudam a formar expressões faciais em mamíferos. Nas pessoas, esses músculos contêm muitas fibras de contração rápida, que nos permitem formar expressões faciais de maneira rápida e fácil – imagine abrir um grande sorriso em resposta a uma piada ou elogio.
O estudo, apresentado na reunião anual da Associação Americana de Anatomia na Filadélfia, examinou fibras em amostras de músculos faciais de lobos e cães domesticados.
Os resultados mostraram que os lobos têm uma porcentagem menor de fibras de contração rápida versus lenta em comparação com os cães domesticados de hoje.
Ter músculos de contração lenta ao redor dos olhos e do rosto seria útil para os lobos enquanto uivam, disseram os pesquisadores, enquanto ter mais músculos de contração rápida ajudaria os cães a chamar a atenção de seus donos com latidos curtos e rápidos e expressões mais variadas.
“Essas diferenças sugerem que ter fibras musculares mais rápidas contribui para a capacidade de o cão se comunicar efetivamente com as pessoas”, disse Burrows.
Os lobos também não possuem outra habilidade que a maioria dos cães possui, de acordo com um estudo anterior de 2019 de Burrows e sua equipe. Esse estudo descobriu que os cães têm um músculo chamado elevador do ângulo dos olhos, que pode levantar a “sobrancelha” interna, fazendo com que o olho pareça maior e mais infantil.
Um estudo de 2013 descobriu que cães que fazem isso com frequência são mais propensos a serem adotados.
“Esse movimento de sobrancelha cria a expressão de ‘olhos de cachorrinho’, lembrando as expressões faciais que os humanos fazem quando estão tristes, tornando-as irresistíveis e resultando em uma resposta estimulante dos humanos”, disse a coautora Madisen Omstead, gerente de laboratório da Escola de Ciências da Saúde John G. Rangos do Departamento de Ciências da Fisioterapia.
“Também sabemos que ainda estamos selecionando inconscientemente essas características em cães”, disse Omstead, apontando para um estudo de 2013 que mostrou que cães que usam essas expressões com mais frequência “foram adotados mais rapidamente do que cães menos expressivos, reforçando esse tipo de cenário evolutivo até mesmo hoje.”
Outro músculo, chamado músculo retrator, do latim, anguli oculi lateralis (retração do canto externo do olho), puxa os cantos externos das pálpebras em direção às orelhas, produzindo o que os humanos chamariam de “sorriso ocular”.
O estudo de 2019 descobriu que, enquanto os lobos tinham um pouco dessa fibra muscular, a maioria dos cães domesticados tinha um músculo mais desenvolvido e o usava com frequência.
A exceção a essa regra é o husky siberiano, que está mais relacionado aos lobos do que muitas outras raças, disseram os pesquisadores.
Se os músculos que permitem que seu cão sorria e pareça doce não são suficientes, olhar nos olhos de nossos “melhores amigos” também parece desencadear um “ciclo de feedback da ocitocina” entre humanos e nossos cães — muito parecido com o que existe entre mães humanas e seus bebês, de acordo com pesquisadores.
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