O atual surto de mpox na África foi declarado uma emergência de saúde pública global pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na última quarta-feira (14). A declaração ocorre diante da circulação do clado 1B, uma cepa com maior transmissibilidade e maior taxa de mortalidade no continente africano, com chances de se espalhar para outras regiões do mundo.
No Brasil, ainda não há casos de mpox causados pela nova variante. Todas as infecções registradas no país estão relacionadas ao clado 2, que causa doença menos grave do que o clado 1 e 1B. Segundo Nísia Trindade, ministra da Saúde, o Brasil está no nível 1 de emergência da mpox.
A seguir, confira as principais dúvidas em relação à mpox e o atual surto, respondidas por especialistas.
1. O que é mpox?
Mpox é uma doença infecciosa causada por um vírus da família do vírus da varíola (já erradicada), o Orthopoxvirus. A transmissão ocorre por meio do contato com pessoas infectadas ou materiais contaminados pelo vírus.
A doença é caracterizada pelas lesões na pele, mucosas e órgãos internos. Segundo Paulo Abrão, vice-presidente da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), há vários graus de gravidade da mpox e ela pode ser fatal.
2. Como a mpox é transmitida?
De acordo com a OMS, a transmissão de mpox pode ocorrer por meio do contato direto com a pele infectada ou outras lesões, como na boca ou nos órgãos genitais.
A transmissão de pessoas infectadas para pessoas sem a doença ocorre, principalmente, através do toque pele com pele (incluindo sexo), boca a boca (beijo), boca-pele (sexo oral) e gotículas respiratórias provenientes do contato próximo e prolongado.
Também pode ocorrer a transmissão de animais infectados para humanos não infectados. Nesse caso, a transmissão pode ocorrer através de mordidas ou arranhões de animais e durante atividades como caça, captura, cozimento e/ou ingestão de animais infectados.
3. Quais são os sintomas da mpox?
Segundo Abrão, os sintomas de mpox incluem, principalmente, lesões de pele, na forma de pústulas. “Acometem muito as áreas genitais e perianais, pela transmissão sexual, mas pode acometer qualquer parte da pele, mucosas e órgãos internos”, afirma.
As lesões na pele podem ser planas ou levemente elevadas, preenchidas com líquido claro ou amarelado, podendo formar crostas, que secam e caem. Geralmente, elas começam a aparecer de um a três dias após o início da febre, mas, às vezes, podem aparecer antes da febre.
O número de lesões na pele pode variar de algumas unidades a milhares. As erupções tendem a se concentrar no rosto, nas palmas das mãos e plantas dos pés, mas podem aparecer em qualquer parte do corpo, inclusive na boca, nos olhos, órgãos genitais e no ânus.
Outros sinais também podem indicar a contração da doença, como febre, dores no corpo, dor de cabeça, calafrios e fraqueza. Segundo o Ministério da Saúde, o intervalo de tempo entre o primeiro contato com o vírus até o início dos primeiros sintomas da mpox (período de incubação) é tipicamente de três a 16 dias, mas pode chegar a 21 dias.
4. O que significa uma emergência de saúde pública global?
Uma “Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional” (ESPII) representa o mais alto nível de alerta da OMS em relação a uma doença, conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional da entidade.
Para que um surto seja considerado uma emergência global, são levados em conta vários aspectos epidemiológicos, incluindo o potencial de transmissão, a população suscetível, a severidade da doença, a capacidade de impactar viagens internacionais, entre outros fatores.
O alerta enfatiza o risco de uma doença se disseminar para outros países através da propagação internacional, além de alertar para a necessidade de uma resposta internacional coordenada para a contenção dessa doença.
5. Qual é a atual situação da mpox?
“Houve um aumento muito significativo de casos, com uma nova variante, na República Democrática do Congo e em países da África. Pode haver espalhamento para vários outros países”, afirma Abrão.
A nova variante em questão é a clado 1B, um subtipo do clado 1, a forma mais transmissível e mais letal da doença. Esse clado é endêmico na República Democrática do Congo e é responsável pelo surto atual. Já o clado 2 foi responsável pelo surto global que começou em 2022, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos.
“O grande temor da OMS é que esse clado 1 saia da República Democrática do Congo e se espalhe no mundo todo, que foi o que aconteceu com o clado 2 em 2022”, explica o médico infectologista Álvaro Costa, que tem a Mpox como tema central de pesquisa de doutorado, em matéria publicada anteriormente na CNN.
6. Nova variante pode chegar ao Brasil?
Sim. Segundo Giliane Trindade, professora de microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), há chances de a nova variante se espalhar para outras regiões do mundo além da África.
“Nós vivemos em um mundo globalizado, e o que estamos vendo na República Democrática do Congo é que é uma variante bem transmissível. Então, tem transmissão comunitária acontecendo e isso não está controlado. Então, é sempre um risco quando associado com o fator da globalização”, afirma a professora, em matéria publicada anteriormente na CNN.
7. É possível acontecer uma pandemia de mpox?
Segundo especialistas ouvidos pela CNN, sim, é possível acontecer uma pandemia de mpox.
“Nós sabemos que, hoje em dia, não tem mais nenhuma doença infecciosa que se concentre em um único local com toda a movimentação das pessoas [de um país para o outro]”, afirma Raquel Stucchi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). “Então, é possível sim que ela atinja outros países de vários continentes, ainda mais sendo mais transmissível”, afirma.
Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, explicou em entrevista à CNN que a declaração da OMS de emergência de saúde pública global significa que a doença tem o potencial de se espalhar e trazer consequências para diversos países e localidades.
“Essa nova variante tem cometido mais com uma facilidade maior crianças, que também não cometia na versão anterior, e se espalhado mais para outros países muito rapidamente”, alertou Kfouri.
8. O que diferencia o atual surto da mpox do surto anterior?
O atual surto está mais concentrado em países da África, principalmente a República Democrática do Congo. “Nesses locais foi detectada uma nova variante do vírus Mpox. Será preciso avaliar qual seu impacto de gravidade e espalhamento nos casos atuais”, explica Abrão. Essa nova variante é a 1B, mais letal e transmissível.
Até o momento, apenas na República Democrática do Congo, foram registrados total de 15,6 mil casos confirmados e 537 mortes neste ano. Esse número já é maior do que o surto de 2022: apesar dos 85 mil casos registrados, houve apenas 120 mortes.
Isso acontece, principalmente, porque o surto de 2022 foi causado pelo clado 2, que é menos grave e menos letal.
9. Como é feito o tratamento da mpox?
O tratamento da mpox consiste em um suporte clínico para aliviar sintomas, prevenir e tratar complicações e evitar sequelas. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde os sintomas dos casos leves e moderados da doença costumam desaparecer espontaneamente, sem necessidade de tratamento.
As erupções cutâneas causadas pela mpox devem, segundo a agência de saúde, secar naturalmente ou com um curativo úmido as protegendo. Além disso, produtos como enxaguantes bucais e colírios que contenham cortisona devem ser evitados pelos infectados.
10. Existe remédio para mpox?
Sim. O antiviral Tecovirimat, desenvolvido primeiramente para a varíola comum, foi licenciado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para a mpox em 2022, com base em dados de estudos em animais e humanos. No Brasil, em 2022, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a dispensa de registro para o Ministério da Saúde importar e utilizar o medicamento.
11. Existe vacina para mpox?
Sim. Segundo o Ministério da Saúde, a imunização antes da exposição ao vírus está priorizando pessoas com maior risco de evolução para as formas graves da doença. Entre eles homens cisgêneros, travestis e mulheres transexuais com idade igual ou superior a 18 anos que vivem com o vírus do HIV.
Além deles, funcionários de laboratórios que trabalham diretamente com microrganismo e têm entre 18 a 49 anos. A vacinação também prioriza pessoas que já tiveram contatos (classificados pela OMS como de alto ou médio risco) com fluidos e secreções corporais de pessoas suspeitas, prováveis ou confirmadas para mpox.
12. Além da vacina, como é feita a prevenção da mpox?
Segundo o Ministério da Saúde as principais formas de prevenção é evitar contato direto com pessoas com suspeita ou confirmação da doença e lavar regularmente as mãos com água e sabão.
Pessoas infectadas devem cumprir isolamento social, que inclui não compartilhar materiais e objetos de uso pessoal, como toalhas, escovas, lençóis e roupas.
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