“Não tem nada de grave, nada assustador”, disse o presidente Lula sobre o que aconteceu na Venezuela, onde a ditadura fraudou mais uma eleição.
A frase do presidente Lula serve para muita coisa. Serve para mascarar fatos desagradáveis que a pessoa não vê ou não quer ver. Serve para justificar fatos abomináveis que a pessoa pretende que não apoia, mas apoia. Serve também como nova categoria moral, segundo a qual nada tem de grave atentar contra princípios da democracia. Nada tem de grave mentir. Nada tem de grave renegar acordos.
A frase do presidente Lula serve para relativizar qualquer coisa, o que é sempre um grande perigo. Ao se relativizar, é que se perde a noção de princípios, a noção dos limites do que é moralmente aceitável ou inaceitável. E isto, no fundo, é uma das grandes diferenças entre a frase irresponsável de botequim e a frase de um chefe de Estado. É a capacidade de reconhecer a seriedade, o significado e a abrangência dos fatos.
Portanto, como é grave fraudar uma eleição. Senão a frase fica valendo para o próprio Lula: não tem nada de grave, nada de assustador nas coisas que ele diz. Afinal, é cada vez menos levado a sério.
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